Vivemos em uma cultura que diz pra gente, direta ou indiretamente, que NADA é pior que ser gorda. Ser gordo é sinônimo de ser preguiçosa, de ser infeliz, de ser mal amada, de ser feia, descuidada e até menos inteligente. Afinal, como são representadas na maioria das vezes as personagens gordas? Engraçadas, atrapalhadas, patetas…
Se nada é pior que ser gorda, qualquer coisa é melhor do que ser gorda. Então vale tentar o remédio milagroso que vai afetar seu fígado (é melhor ter o fígado machucado do que ser gorda), vale frequentar consultório de médicos com apelidos como “Dr. Caveirinha” (correr risco de infartar é melhor do que ser gorda), vale fazer cirurgia (morrer na sala de cirurgia é melhor do que ser gorda).
Vale passar fome, desmaiar, vomitar, fazer a dieta que você só come proteína (mesmo que isso eleve seu colesterol… afinal, colesterol alto é melhor do que ser gorda), vale tomar fórmulas caríssimas que te secam em 3 meses mesmo que isso faça você ter insônia e taquicardia afinal… vocês já sabem.
Se você pesquisa sobre chá verde? Emagrece! Hibisco? Também! Centella asiática? Seca!!! Afinal, para que conhecer todos os outros benefícios maravilhosos e tão importantes pra nossa saúde que essas plantas podem fornecer para nossa mente e organismo? O importante afinal sempre será emagrecer.
E quando você finalmente emagrecer… será sinônimo de saúde, de beleza, de superação, mesmo que seu psicológico tenha ficado seriamente afetado no processo e que na verdade pra você chegar naquele peso tenha usado métodos nada saudáveis. Mas o que importa? Nada é menos saudável do que ser gorda! Não importa como você emagreceu. E agora sim! Você está pronta para viver, ser feliz, amar, ser amada e ser bela. Se tem algo mais importante que emagrecer… é ser bela.
Além da cultura do nada é pior do que ser gorda, vivemos na cultura das fórmulas prontas. Nossa vida virou um grande copia e cola. Na hora da prova queremos responder as questões exatamente como diz no livro e nunca o que compreendemos dela. A real é que pensar dá medo. Não queremos enfrentar nossos demônios, entender nossos porquês, ressignificar nossa relação com a comida, com o nosso corpo, com os nossos hábitos.
Porque temos medo, temos medo da autorresponsabilidade. Temos medo de nos conhecer de verdade, de enfrentar nossos demônios. E nosso maior medo é de compreender que somente nós podemos salvar nós mesmas. Morremos de medo de assumir o “sou responsável por mim, pelas minhas escolhas.” É bem mais fácil quando alguém diz: “É isso aqui que você tem que fazer pra ser e conseguir o que você quer. Se você seguir, conseguirá tudo que deseja!”.
Se tem algo que a gente acredita mais que príncipe encantado é fada madrinha que transforma abóbora em carruagem e, nos dias de hoje, que transforma até sua microbiota.
Transformações reais nascem do autoconhecimento. Conheça seu corpo, conheça sua mente. Como é a sua relação com seu corpo? Quando você começou a odiá-lo? Por que? O que você pode fazer para entender melhor seu organismo? Como é sua relação com a comida? É abusiva? É fuga? Do que você está fugindo? E se você quer mudá-lo, o que te motiva? O que você acredita que terá e será com essa mudança? Por que?
É mais fácil encapsular soluções milagrosas do que estimular você a pensar por você mesma, a fazer um mergulho interno e assumir responsabilidade sobre suas escolhas e entender suas diferenças, suas particularidades. Porque aí vem a autonomia… e a verdade é que autonomia e autorresponsabilidade não são interessantes pra sociedade em que vivemos.
Não tenha medo de encarar suas questões de frente, de parar de interpretar um personagem pra você mesma. Assuma seus desejos, suas vontades e trilhe seu caminho com amor, com respeito e acolhimento com você mesma.
Você tem dentro de você tudo que precisa. Você não precisa de milagre e de fada madrinha. Precisa ouvir sua intuição e se conectar com seu verdadeiro eu. Quando isso acontecer de forma honesta tudo terá um novo significado. Seu corpo, sua comida, sua história, seus desejos… O que é realmente importante pra você? O que faz sentido pra você?
Mudanças REAIS levam tempo. Respeite seu tempo. Entenda que você é digna e que toda mudança só é positiva pra você quando é fruto do amor. Olhe pra dentro. Descubra o que funciona pra você e que ninguém mais pode descobrir. Você é dona do seu corpo, da sua mente, e se conhece como ninguém. Use seu tempo descobrindo o que te faz feliz e transforma de verdade sua autoestima.