Parem de supervalorizar o sexo!
Quanto mais eu penso no assunto, mais tenho certeza de que um dos principais problemas da sociedade é dar importância demais ao sexo. Tanto na hora de glamourizar, quanto na hora de marginalizar. O sexo é instrumento de conquista, de aproximação, de repelência e de humilhação, quando deveria ser instrumento de reprodução e prazer, apenas!!
As pessoas conseguem distorcer um dos únicos prazeres gratuitos dessa vida, além da praia, transformando-o no céu e no inferno e descartando todo o valor divertido desse ato. O negócio é tão palpável, que eu até consegui dividir em tópicos, os motivos pelo qual o povo tá estragando o sexo.
Ilustração: Regards Coupables
1- O bom e velho abismo entre Expectativa e Realidade
Lembro perfeitamente da primeira vez que me deparei com uma cena de sexo na TV. Eu tinha uns 8 anos e já tava acostumada a ver “cenas de sexo” nas novelas da Globo e filmes hollywoodianos. Por lá, reinavam duas modalidades de conjunção carnal: uma consistia em pessoas rolando de um lado pro outro em camas king size ornadas com lençóis brancos e sedosos de 1 gazilhão de fios egípcios.
A outra era daquele tipo que o homem manipula a donzela em seus braços, como se fosse uma boneca de meio quilo: levanta no colo, coloca em cima da mesa, tira tudo da mesa com a outra mão, pega no colo de novo, leva na parede, come a mulher flutuando na parede, pendura no ventilador, as roupas escorregam do corpo com aquela facilidade ímpar… vocês sabem. Mas muito antes de eu me iniciar na vida sexual, a realidade bateu em minha porta e-eu-a-bri.
Tava com mamãe vendo filme, quando aparece uma cena de um cara suado em cima de uma mulher também suada, os dois pelados e esquisitos (não pareciam aqueles galãs e modelos das novelas), numa cama de solteiro tosqueira, numa cena totalmente constragedora de… tchananam: “Cruzes, mãe, que que isso?!?!?!?” “Eles tão transando, ué”. Era sexo! REAL. Minha mãe já respondeu com uma risadinha de canto de boca, prevendo o que viria depois. “Mentira… eu já vi pessoas transando na novela e não é assim”. “Eu sei… esse é o de verdade”. — QUE UÓÓ – Nem precisei falar nada! Ela viu na minha cara a ojeriza.
Pior que sexo de filme de Hollywood e novela, só sexo de filme pornô, com mulheres 100% depiladas dos pés ao pescoço e homens com pirus quilométricos. A geração que for poupada de toda essa ilusão, vai lidar muito melhor com a realidade do sexo.
Ilustração: Regards Coupables
2- A mitologia envolvendo a virgindade
Sempre fui uma leitora ávida da Capricho e outras publicações direcionadas à jovem mulher. Eu lia elas todas de cabo a rabo. Vira e mexe, dava uma bizoiada nas Marie Claires da vida também, por um vislumbre do que viria por aí. E lá na Capricho, sempre tinha uma psicóloga, conselheira ou sei lá, pra cagar uma regra de que: “A pessoa que tira sua virgindade tem que ser um cara especial”… e blá blá blá. Eu sei, não era por mal… eles estavam tentando nos preservar, né?
Mas já que já estamos em 2016 e estamos empoderadas, podemos virar essa página. E começar a ensinar que você, menina, pode perder a virgindade com quem você quiser, contanto que você esteja afim e por favor, use camisinha, porque ao contrário de nós, esses homens são ensinados a passar o piru em qualquer vagina que aparecer do lado deles. Ficar dando essa importância toda pra virgindade só traz medo pras meninas. Medo de serem as únicas virgens, medo de serem as únicas “não-virgens”, medo de serem consideradas santas, medo de serem consideradas “rodadas”.
É só um hímen que se rompe, sua vida não vai mudar por isso (repito, se você usar camisinha e obviamente o sexo tiver sido consensual), ninguém vira outra pessoa porque aquela membrana foi rompida, ninguém. Esse papo da virgindade só funciona entre aqueles que acham que o sexo tem o propósito de gerar criancinhas e mais nada. Se você usa o sexo pra sentir prazer, a primeira vez e a última, deveriam ter o mesmo valor – o de um orgasmo.
Ilustração: Regards Coupables
3- A condenação da nudez
Fiz esse apelo aqui no GWS há uns meses e volto a dizer: vamos parar de sexualizar tudo que é corpo nu, cacete. Nem era pra gente ficar usando roupa do jeito que a gente usa. Olha nosso clima. Estamos em outubro e eu poderia estar usando uma tanguinha pra vir pro trabalho tranquilamente, se não fossem as dezenas de aparelhos de ar-condicionado instalados por aqui.
A gente herdou esse negócio de camadas e mais camadas de vestimentas dos portugueses que vieram pra cá dizimar os habitantes locais que obviamente andavam nus e agora vamos nos fuder eternamente num calor desnecessário. Depois de virar mãe então e ser obrigada a desfilar meus belos- hahaha- seios por aí, tenho mais preguiça ainda de quem ainda se espanta com fulana “deixando escapar o mamilo” na saída da buatchy. BIG DEAL! Todo mundo tem mamilo, tem gente que tem até 3.
Ou seja, além de toda a parte envolvendo o sexo em si, ainda tem isso da pessoa ficar sem graça só de ficar pelada na frente da outra. De não conhecer nem a própria vagina, de tanto que ela se esconde. Ah para.. qual a diferença dessa parte do seu corpo e as outras? Nenhuma.
Ilustração: Regards Coupables
4- A caretização do sexo
Mas beleza… você não criou expectativa, perdeu a virgindade e não tem vergonha de ficar pelada, que venham dias e noites de sexo na sua vida. Você começa a transar várias vezes com um, outras vezes com outra, percebe que precisa variar e começa a diversificar suas práticas. Porque afinal, o objetivo é se divertir, né? Então tem que rolar uma pitadinha de sal ali e uma pimenta acolá.
E você engata nesse mundo maravilhoso de noites de farra gratuita que o sexo pode te proporcionar. SÓ QUE as pessoas são CHATAS, e quando você se toca, você virou a LOUCA que gosta de sexo selvagem, que gosta de orgia, 50 tons de cinza, maluca, tarada e não sei o que mais. Só porque você, no alto da sua evolução, entende que se for pra ficar entediada, você prefere ficar olhando pro teto sozinha do que mal acompanhada.
Enfim, é só SEXO gente. É bom e é de graça, façam mais e falem menos. Usem e abusem. Eu estarei fazendo isso.
postado originalmente em: medium.com/@isafreire
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